quarta-feira, 1 de junho de 2011

VIAJANDO A VIDA

Estava ainda escuro quando embarquei no trem. Acomodei-me no melhor lugar, junto à janela, depois de ter ajeitado minha bagagem. Logo em seguida o trem se pôs em movimento, primeiro vagarosamente, para então, logo após, ganhar uma razoável velocidade.
Estava um tanto sonolenta, dei uma boa cochilada, e acordei com muita fome.
Lá fora o sol estava no zênite. Era outono e a paisagem estava esmaecida, a vegetação ressequida, a poeira se levantando do chão ao sabor do vento...
Olhei ao redor, para as pessoas presentes no vagão. Algumas simpáticas, outras completamente indiferentes, mas não conhecia nenhuma.
Resolvi  fixar o meu olhar do lado de fora, atenta aos menores detalhes, admirada das coisas novas que passavem velozmente diante dos meus olhos.
Árvores de formato estranho, animais que miravam curiosos o trem que passava, logo ali um lago de águas cristalinas, uma pontezinha sobre um riacho, um agrupamento de casas acolá, um cavalo pastando solitário...
O dia correu célere e eu aguardava, ansiosa, pelo meu destino final, quando poderia desembarcar.
O trem fez algumas paradas e alguns passageiros desceram, outros subiram e foram se acomodando em seus lugares.
E a viagem prosseguiu, e o tempo foi passando, passando...
Fui me acostumando com o lugar onde estava, com as pessoas, embora elas fossem se alternando à medida que o trem fazia suas paradas.
Nunca senti vontade de descer em nenhuma estação, nenhuma curiosidade de conhecer novos lugares e pessoas. Apenas olhava de longe, pela janela do vagão.
Os dias foram se sucedendo às noites, e estas davam lugar novamente aos dias, alguns ensolarados, outros nublados e tristes.
A viagem foi se arrastando penosamente, nunca chegava à estação em que eu desembarcaria. Sentia-me cansada, sem vigor, sem ânimo.
Comecei a me sentir mal, sem conseguir respirar. Assustei-me com o meu reflexo no vidro da janela. Estava com o rosto todo vincado, sem brilho, os cabelos totalmente brancos, as costas encurvadas, as mãos trêmulas...
Quando havia chegado a velhice, que eu nem havia reparado?
Onde gastara os meus anos, a minha juventude, as minhas forças?  Por que não aproveitara os melhores anos de minha vida para tentar conquistar boas coisas, realizar meus sonhos?
Por que havia desperdiçado minhas horas sem nada melhor do que fazer a não ser olhar a vida correr "lá fora"?
Agora estava completamente só, o vagão totalmente vazio...
O trem apitou uma última vez... Era a derradeira estação.
Ajeitei as poucas bagagens, dei uma olhada no vagão e desci.
O nome do lugar era Esperança... Fui caminhando lentamente, enquanto ao longe divisei o vulto de alguém se aproximando. Uma figura luminosa, toda vestida de branco, com um sorriso nos lábios e os braços estendidos: era minha mãe!
(SUELI CURRIEL)

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