quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

NÃO SE MATE






Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê,
pra quê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá.

Carlos Drummond de Andrade

Um comentário:

  1. Adorei a ultima parte do poema... Porque pensando como psicóloga, todas as pessoas que cometem suicídio acreditam que realmente será assim silencioso, onde ninguem saberá...
    Mas as coisas não funcionam assim, na verdade só estamos abreviando uma coisa da qual não temos o direito, para futuramente recebermos as suas consequências... Como sabemos não há ação sem reação.

    ResponderExcluir

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...